Os conflitos entre pais e adolescentes têm aumentado, mas nada está perdido: para saber como lidar com a fase mais irritante do ser humano, entrevistámos o psicólogo espanhol Ángel Peralbo, autor do livro ‘O Adolescente Indomável’.
Ser um pai ou mãe descontraído
“Os pais sentem-se hoje muito culpados, e por isso não estão descontraídos a  educar e a viver com os seus filhos”, começa por notar Ángel Peralbo. “Claro que  cometem erros na sua educação, mas não é preciso pensar muito nisso porque todos  nós cometemos erros a educar os nossos filhos. Sem culpa, os pais ficariam mais  tranquilos e, curiosamente, seriam mais atuantes, porque a culpa a única coisa  que consegue é paralisar-nos. Não fazemos nada porque nos sentimos impotentes, e  achamos que está tudo perdido.”
Desbloquear a culpa
Como se desbloqueia a culpa? “Percebendo a situação e percebendo aquilo que  queremos. Digo muitas vezes aos pais, claro que fazemos muitas coisas mal, mas  também fazemos muitas coisas bem, e nessas nunca pensamos. Temos de nos  concentrar no que podemos fazer agora, e esquecer o passado, que é inútil.”
Não os deixar pensar que podem ter tudo
“Esse é um dos problemas mais graves, porque estamos atualmente a ver a  derrocada desse modelo”, nota o psicólogo. Esta vai ser a primeira geração que  vai ter uma vida mais difícil que a dos seus pais, e eles não estão preparados  para isso. Como se podem preparar? “Quanto antes. E não tenhamos medo de pôr um  adolescente a trabalhar em casa. A única coisa que podemos temer são as suas  reações, que são lógicas se nunca foram obrigados a trabalhar antes. É normal  que se zanguem e que tenham dificuldade para se adaptar, mas vão acabar por se  habituar, e os pais têm de pensar que vão criar pessoas bem adaptadas ao mundo.  Precisamos de jovens que trabalhem, que se responsabilizem, que tenham limites,  mas esses limites não são eles que se vão pôr a si próprios, têm de ser os  adultos a fazê-lo...”
Não ter medo dos filhos
Esse medo tem aumentado? “Em Portugal não tanto, mas em Espanha sim. Temos  atualmente números assustadores de filhos que agridem os pais. É um problema até  agora não detetado de pais que têm sido demasiado transigentes desde a infância.  E é algo de que nos envergonhamos, um pouco como na violência doméstica. Vem  outra vez a culpa, e a tendência é calarmo-nos e aguentarmos, em vez de resolver  o assunto.”
Não perder a comunicação positiva
Podemos ter em casa um adolescente terrível e problemático, mas não devemos  deixar de lhe dizer que gostamos dele. “Há que evitar as discussões e brigas  constantes, porque isso é um terreno onde o adolescente vai ganhar sempre. O que  os pais têm de fazer é manter-se firmes naquilo que acham verdadeiramente  importante – não às drogas, cuidado com as companhias, fazer os trabalhos de  casa, ajudar nas tarefas, não chegar muito tarde a casa – nesse tipo de coisa os  pais não devem transigir. Quando o adolescente entende claramente quais são as  suas obrigações, tem gosto em cumpri-las.” Há coisas que têm de ser proibidas? “Claro que sim. Crianças de 13 ou 14 anos que fumam canabis ou bebem álcool não  podem achar que têm direito a isso... Claro que as regras que se aplicam aos 13  anos não se aplicam aos 17.”
Preparar a adolescência desde criança
Um adolescente não nasce de geração espontânea, cria-se de pequenino. “Se bem  que uma criança sossegada nem sempre dê um adolescente sossegado”, nota Ángel  Peralbo. “Por isso, os próprios pais têm de saber mudar, têm de saber estar  próximos sem os sobreproteger, pôr limites mas também ceder. Hoje está muito na  moda dizer que se deve ‘negociar’ com as crianças. Não creio que haja alguma  utilidade em negociar com as crianças, porque chegam à adolescência a pensar que  tudo é negociável, e não é assim. Os pais têm de manter a sua autoridade.”
Incentivar a autonomia
Assim que possível, deixar que o filho saia de casa. “Muitas vezes, é a  partir daí que a relação entre pais e filhos melhora”, nota Ángel. “A partir de  certa idade, os filhos querem-se longe dos pais. Hoje em dia é complicado, mas  deve ser feito, e deve-se deixar que eles tenham dificuldades, porque toda a  gente tem. Os pais têm muito medo do desamparo dos filhos, acham que não vão ser  capazes de sobreviver, mas são. Em resultado, estão a viver numa relação  demasiado simbiótica, que não é boa para ninguém.” Portanto, saiam de casa. “Os  pais gostam de os manter em casa seguros, sãos, bem alimentados – e dependentes.  Mas um pai deve dar ao filho a capacidade de autorregular-se. Há muito a ideia  do estudante eterno, mas vejo muitas vezes que é quando os filhos saem de casa e  começam a trabalhar que recuperam o verdadeiro prazer pelo estudo. Porque aí,  não estudam no vazio.”
Criar laços afetivos
“Precisamos de filhos trabalhadores e responsáveis. Mas não precisamos de  filhos sós, que é diferente.” Há muitos adolescentes sós? “Há famílias que não  se tornam próximas das crianças na infância, e muito menos na adolescência. A  adolescência é a etapa em que tudo fica um pouco mais difícil – não impossível – por isso é preciso haver alguma preparação. Insisto muito em que os pais devem  ser flexíveis – e isto não significa permissivos – mas saber adaptar-se ao filho  que têm (são todos diferentes) e à sua idade. E têm de manter a calma, porque o  adolescente vai pegar nas nossas falhas e fragilidades e jogá-las contra  nós.”
Manter-se otimista
“Eu estou otimista, apesar de tudo, porque estamos a viver uma situação  difícil e um tempo problemático, mas também temos cada vez um maior grau de  consciência por parte dos pais e dos professores. Percebem cada vez melhor que é  importante ser positivo e falar das coisas e querer agir, e que os adolescentes  são um diamante em bruto: têm muito de bom, só temos de ajudá-los a trabalhar  isso.”
Viver no presente
“Sejam capazes de trabalhar no presente: o passado não interessa”, aconselha  Ángel. “Não nos percamos em pensamentos inúteis, a pensar no que podíamos ter  feito e não fizemos. Isso é completamente inútil. Concentremo-nos em trabalhar  com o que temos agora.”
Trabalhar em conjunto
“Tudo é mais fácil se tivermos um marido ou mulher que nos ajude, se tivermos  uma família que nos apoie em vez de nos culpar, quando a escola sabe os  problemas que temos. Também ajuda partilhar com outros pais.”
Recuperar o autocontrolo
“É importante conseguirem manter--se firmes, porque há muitas decisões a  tomar. E a partir daí, saber ser um pai ou mãe afetivo, saber estar próxima do  seu filho. Isso é o fundamental.” Ser um pai ou mãe descontraído
“Os pais sentem-se hoje muito culpados, e por isso não estão descontraídos a  educar e a viver com os seus filhos”, começa por notar Ángel Peralbo. “Claro que  cometem erros na sua educação, mas não é preciso pensar muito nisso porque todos  nós cometemos erros a educar os nossos filhos. Sem culpa, os pais ficariam mais  tranquilos e, curiosamente, seriam mais atuantes, porque a culpa a única coisa  que consegue é paralisar-nos. Não fazemos nada porque nos sentimos impotentes, e  achamos que está tudo perdido.”
Desbloquear a culpa
Como se desbloqueia a culpa? “Percebendo a situação e percebendo aquilo que  queremos. Digo muitas vezes aos pais, claro que fazemos muitas coisas mal, mas  também fazemos muitas coisas bem, e nessas nunca pensamos. Temos de nos  concentrar no que podemos fazer agora, e esquecer o passado, que é inútil.”
Perceber porque estão os jovens descontrolados
Os adolescentes estão mais descontrolados agora? Ou é um descontrolo próprio  da idade? “As duas coisas. A adolescência sempre foi um período em que se põe  tudo em causa e em que a vida está em turbilhão. Por outro lado, assistimos a um  nível de conflito na família e na escola que era dantes inimaginável. Dantes  isto só ocorria em famílias desestruturadas. Hoje em dia, acontece em famílias  ditas normais, em colégios normais, em ambientes normais. Claro que a maioria  dos nossos adolescentes são fantásticos. Mas tem havido um enorme aumento de  adolescentes conflituosos, porque houve  uma mudança no estilo  educativo.”
Não deixar arrastar um problema
Hoje, os pais têm grande dificuldade em exercer a sua autoridade, e também  têm menos oportunidade para exercê--la, uma vez que passam menos horas com os  filhos... “Claro. As crianças também estão muito adultas desde pequenas: têm  mais informação, educam--se umas às outras, são mais seguras. E a coisa não está  fácil para os pais: vão deixando andar, transigem, não se querem chatear, têm  menos tempo.” Ou seja, vão fechando os olhos, e com o passar dos anos os  pequenos problemas vão-se tornando uma bola de neve. “Os pais fazem o que sabem,  mas com as crianças de hoje isso muitas vezes já não funciona, e há que procurar  outros métodos. Não devem deixar acumular os problemas. Claro que nunca é  demasiado tarde, mas quanto mais tarde mais difícil de  resolver.”

Sem comentários:
Enviar um comentário